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Relatório apócrifo inventa cálculos para apontar existência de algoritmo capaz de desviar votos entre candidatos à Presidência
Texto divulgado na internet não se baseia em critérios claros nem comprova que houve manipulação
Publicado em 14/12/2022 às 17:35, atualizado em 19/12/2022 às 17:19

Conteúdo analisado:
Em dezembro de 2022, começou a circular na internet mais um relatório de autoria desconhecida que aponta supostos indícios de manipulação na totalização dos votos para o cargo de presidente da República. O conteúdo apócrifo, nomeado como "Análise Interferências Eleições 2022", traz um pretenso estudo sobre a votação registrada em 472.027 urnas eletrônicas distribuídas entre 2.637 Zonas Eleitorais.
Com base nesses dados, o autor ou a autora do “estudo” afirma que houve interferência automatizada e em larga escala, que afetou o resultado final ao apresentar padrões recorrentes capazes de contrariar as formas de distribuição de frequência em eventos aleatórios.
É dito, ainda, que foram identificados padrões de comportamento em uma grande quantidade de equipamentos, fato que, segundo o relatório, comprovaria a existência de algoritmos para ajustar o número de votos de cada candidato. Também são indicadas pretensas “concentrações anormais” de urnas com o mesmo “quociente de votos” para os dois principais candidatos à Presidência. O agrupamento, de acordo com a tese anônima, sugeriria que houve um ajuste realizado de forma digital para desviar votos.
Por que é boato?
Os cálculos indicados no relatório foram feitos de acordo com critérios definidos pela pessoa que o elaborou - sem base teórica ou estatística - e não comprovam que houve transferência de votos entre as candidaturas.
Confira a explicação
A metodologia aplicada pelo pretenso "estudo" criou um indicador chamado Q22_13, que é a razão (divisão ou quociente) entre os votos em 22 e votos em 13. De acordo com o autor do texto, o cálculo foi aplicado em todas as seções eleitorais analisadas, produzindo um resultado específico para esse indicador.
As informações foram agrupadas em um gráfico chamado "Histograma", assim dividido: no eixo horizontal encontram-se os valores assumidos por indicador subdivido em pequenos intervalos, enquanto o eixo vertical representa a quantidade de urnas nas quais esse mesmo valor apareceu.
A partir disso, a "análise" defende que a distribuição "anormal" desses dados apontaria a interferência de algoritmos para ajustar o número de votos de cada candidato em determinadas circunstâncias que não foram bem esclarecidas pela pessoa responsável pela análise.
Cálculos foram inventados pelo autor do relatório e não comprovam interferência
Ocorre que tal indicador não traz nenhum cálculo estatístico nem embasamento teórico que possibilite afirmar que há indício de fraude. No caso em questão, foi feita uma mera razão entre duas quantidades e os valores mais frequentes são resultado de divisões exatas.
Ou seja, a simples divisão entre o total de votos registrados por ambos os candidatos, portanto, não comprova as suspeitas de manipulação. Além disso, não existem estudos técnicos que apontem que essa variável aleatória, criada pelo autor do documento sem qualquer subsídio científico ou metodológico, represente indicativo de interferência no resultado do pleito.
Por fim, conforme já esclarecido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Federal do ABC (UFABC) não há relação entre os modelos das urnas e as votações para um ou outro candidato em determinadas seções eleitorais.
Tese de suposto algoritmo usado para desviar votos já foi desmentida
A tese de que foi utilizado um algoritmo para desviar votos entre as candidaturas é outra suspeita infundada, que já foi desmentida por agências especializadas em checagem de notícias falsas e também pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para entender como funciona o processo de totalização (soma dos votos), é importante saber que os Boletins de Urna (BUs) de todas as urnas do país são processados na medida em que os dados chegam à Corte Eleitoral.
Ou seja, não há uma ordem pré-definida de quais localidades ou regiões terão os votos totalizados em primeiro ou em último lugar. Da mesma forma, não existe nenhum algoritmo programado para ditar a porcentagem atingida por cada candidatura ao longo do processo de soma dos votos.
Acesse as checagens e esclarecimentos abaixo